Nota prévia: este é um texto de opinião. Não revela informação factual e não deve ser lido como um artigo “certo” ou “errado”.
Raramente me encontrarão no Instagram a promover manifestações seja do que for. Muito menos me verão a participar nas mesmas. Não porque não ache importante criar consciência coletiva sobre alguns temas (estou a lembrar-me da marcha estudantil pelo clima). Acho, muito importante. Mas acho que as manifestações são a maneira mais fácil, mas também a mais desorganizada, facilmente mal interpretada e com menos resultados reais de fazer ativismo.
– Digo mais desorganizada porque, como em tudo, há um mote central de protesto, uma meia dúzia de pessoas que vão porque acreditam no que estão a fazer e, lá pelo meio, umas centenas de ovelhas que, não só não fazem ideia dos ideais pelos quais a manifestação quer lutar, como estão a colocar em causa o trabalho dos restantes (não é, malta das garrafinhas de água descartáveis a gritar a plenos pulmões “salvem as tartarugas”?). Por causa de alguns, a mensagem perde-se e é facilmente ridicularizada.
– Mal interpretada porque, convenhamos, para quem mora/trabalha nas zonas das manifestações, assim que vê um bando de pessoas de cartaz e megafones em riste a cortar o trânsito (algumas cheias de vontade de mudar também, já de bicicleta ou carros elétricos!), o que pensa imediatamente é “mas esta gente não tem nada que fazer para além de chatear os outros?”. E a verdade é que… podemos! A ideia é trazer mais pessoas à causa, não alienar as pessoas que estamos a impedir de se deslocarem e de trabalharem/viverem o seu quotidiano.
– Com menos resultados reais porque, num dia há manchetes de jornais sobre a manifestação (muitas vezes mencionando o rasto que a mesma provocou…) e no dia seguinte está tudo a beber um smoothie detox com manga do Paraguai (existe?) numa bela esplanada de praia com duas palhinhas mega giras e uma fotografia no Instagram #goals #voureutilizarapalhinha #adorotartarugas.
Não somos todos perfeitos e fazer pouco é melhor que fazer nada, mas se é para nos fazermos ouvir enquanto um todo e mostrar a força dos que acreditam num planeta mais sustentável, podemos… sei lá… votar??
Recentemente tivemos as eleições Europeias, onde se assistiu a uma taxa de abstenção vergonhosa no nosso país. Pergunto-me se todos os jovens em idade de votar que participaram nas marchas pelo clima que existiram por todo o país, se deslocaram às urnas. Sei que não, porque conversei com muitos destes jovens (credo, quem me ler parece que sou uma velha!) através do Instagram, que me provaram o oposto: não só não foram votar, como afirmam a pés juntos que “não votaram conscientemente” (seja lá o que isso for, dado que, sem ir às urnas, não é sequer possível votar nulo, para mostrar descontentamento).
Participar em manifestações é ter vontade de andar em rebanho, sabendo que nem todo o rebanho sabe os motivos do protesto mas, “não faz mal, porque se formos muitos fazemo-nos ouvir”. E efetivamente fazem, mas e depois?
Portanto, para não parecer aqui uma velha do Restelo (que até sou muitas vezes, confesso), deixo-vos com uma sugestão que me parece mais interessante: ativismo silencioso. Comecem por dar o exemplo publicamente em relação às coisas que acreditam, sem fazer grande alarido disso.
– Levem os sacos de pano reutilizados quando vão às compras e, quando vos disserem no supermercado “ah, mas o saco pesa 2 gramas, vai pagar mais 20 cêntimos”, aproveitem para responder “20 cêntimos para mim valem a não contaminação das nossas fontes de água por um saco plástico”.
– Quando tiverem um almoço em casa de amigos e estiverem a dividir o menu digam que os sumos ficam por vossa conta, peguem em fruta da época (de preferência a que esteja mais feia, amolgada e já “passada”) e façam sumos naturais.
– Quando estiverem no trabalho e fizerem uma pausa para o café com os colegas, tirem a vossa chávena reutilizável e levem-na orgulhosamente na mão.
Comecem conversas sobre sustentabilidade com quem está à vossa volta. Mostrem os passos tão simples que todos podemos adotar. Liderem pelo exemplo (e não por um megafone). Ao adotarem este tipo de ativismo silencioso, vão estar a dar exemplos concretos do que cada pessoa pode fazer em prol da sustentabilidade (sim, que dizer “Políticos, façam alguma coisa” e “Os golfinhos estão a morrer” dá muito poucas ideias para a mudança – embora seja verdade). E a Greta tem razão, temos de entrar em PÂNICO com as alterações climáticas. Por isso mesmo, temos de parar de perder tempo com megafones e cartazes e canalizar os nossos esforços a mudar os nossos comportamentos, para que possamos (o mais rapidamente possível), incentivar quem está à nossa volta. E parece que estou aqui a desvirtuar o trabalho dela, mas reparem que ela começou com uma manifestação silenciosa, percorreu o seu caminho até os mais importantes representantes políticos a ouvirem e fez-se ecoar por todo o mundo. Uma miúda com um cartaz… Imaginem o exemplo que podem dar vocês: uma miúda / um miúdo / uma mulher / um homem / UMA PESSOA com uma garrafa reutilizável ou uma chávena de café não-descartável numa mesa de reuniões, UMA PESSOA com um saco reutilizável num supermercado concorrido, UMA PESSOA que vai a um hotel e deixa todas as deliciosas “miniaturas” de higiene intactas, com uma mensagem que diz “trouxe os meus produtos de higiene não descartáveis, em prol do ambiente”. Podem mudar O MUNDO!
Quero só terminar com um pedido de desculpas a quem efetivamente já dá o exemplo e ainda assim considera as manifestações importantes. Isto é apenas uma opinião pessoal e é feita a pensar, sobretudo, nas centenas de pessoas que aderem a marchas pela sustentabilidade só porque fica mal não ir. É verdade que a sustentabilidade está na moda, mas quando deixar de estar, ainda cá estarão vocês, os verdadeiros ativistas. E faz-me confusão pensar que estarão bem mais sozinhos do que durante as marchas. Por isso acredito em incentivar mudanças com o exemplo. Ajudar o colega do lado a mudar, nem que seja NUMA coisa mínima. São as mudanças mais simples que “pegam” mais facilmente. E assim, em vez de uma moda, desenvolvemos um hábito sustentável.