Vamos pensar no conceito de zero waste? Zero desperdício (ou desperdício mínimo). Isto significa: usar o que temos e fazer uso inteligente das várias vertentes de cada objeto. O que o conceito não significa é arranjar um utensílio que serve um propósito específico no qual nunca tínhamos pensado antes e do qual nunca tínhamos precisado. Portanto, tudo o que se pede nesta luta pelo derperdício mínimo é, nada mais nada menos do que (drumroll please)… bom senso!
Posto isto, deixo-vos uma lista daquilo que tenho na cozinha, com uma breve explicação dos usos e, caso não tenha sido uma boa compra, do que teria evitado.
Beeswrap
Começo por uma compra que teria sido desnecessária: comprámos um pequeno kit com 3 beeswraps. Erro. Os kits não fazem muito sentido para nós: com uma folha média conseguimos enrolar um limão pequeno, mas com um pequeno não conseguem enrolar uma tijela maiorzinha, por exemplo. Mais vale ter um ou dois de tamanho médio, grande, do que vários de vários tamanhos (opinião pessoal).
Ainda assim, usamos muito o beeswrap (mesmo o tamanho mais pequeno do kit) para guardar queijos. Mesmo que os quejos fiquem bem nas taças de vidro tapadas que temos em casa, o queijo fica sempre com algum bolor – que não é grave, limpa-se com azeite. No entanto, enrolado num beewsrap, não fica em contacto com o ar e não ganha bolor nenhum.
A melhor parte do beeswrap e o motivo pelo qual cá em casa usamos tanto? Se fizermos comida e sobrar, escusamos de mudar a comida para um recipiente (o que implica lavar a anterior e o utensílio que utilizarmos para passar a comida de um recipiente para o outro): tapamos num beeswrap e pomos no frigorífico.
Nota: para quem não sabe o que é um beeswrap, é uma folha de algodão “embebida” em cera (de abelha ou de soja) que substitui a película aderente. Há várias marcas (Abeego, Beeswrap, Superbee, etc.) e podem fazer também em casa, com restos de tecido, pedaços de cera, óleo de jojoba, resina e alguma perícia. Vejam aqui um post sobre alternativas para a película aderente, no qual falo dos beeswrap.
Sim, no limite pode ser substituído por panos molhados, mas considero o VejiBag uma das melhores aquisições que fiz, porque me permite desperdiçar menos comida. Basta molhar este saco e colocar legumes frescos (para colocar o saco à prova, experimentei com espinafres, que se estragam num instante. Duraram duas semanas impecáveis). Os legumes conservam-se durante bastante tempo, basta ir molhando este saco quando for ficando mais seco. Disse que, no limite, pode ser substituído por toalhas molhadas, mas ainda assim, o tecido do saco faz com que a absorção da água seja melhor e dure mais tempo do que com uma toalha ou pano. Foi uma excelente compra, mas é um investimento ainda considerável (o tamanho médio custa mais de 25€). Só tenho um e utilizo para colocar os legumes que se estragam mais rapidamente ou aqueles que sei que vou demorar mais tempo a cozinhar.
Esfregão
Ok, esta tem de existir. É preciso alguma coisa para lavar tachos e afins. E as hipóteses são muitas: “esfregão” de fibra de coco (se for dos fininhos, tipo Saffix, é frágil, desintegra-se facilmente, mas excelente para superfícies mais sensíveis), escova de madeira e cobre ou cerdas (cuidado com o cobre, porque pode riscar panelas e não é aconselhável para as anti-aderentes), esponjas biodegradáveis (não recomendo, porque as esponjas só se vão degradar se não forem parar a um aterro onde sejam compactadas – coisa que ninguém consegue garantir, neste momento, em Portugal, ao colocar as mesmas no lixo comum) ou compostáveis (que só recomendo se tiverem um compostor bastante grande onde possam efetivamente compostar a esponja. Se implicar compostagem industrial, a menos que consigam garantir que vai efetivamente ser compostada em pontos de compostagem municipais/distritais/nacionais, diria para evitar). O que escolhemos foi um de fibra de coco resistente, presa em arame. Molhado fica macio o suficiente para dar para lavar panelas anti-aderentes, mas continua com a firmeza necessária para tirar partes queimadas das panelas.
Lutei, lutei lutei para resistir, mas numa ida à Maria Granel, a Eunice pôs-me um nas mãos (que é como quem diz, no saco) e lá fui eu com o “saco reutilizável” mais útil que alguma vez encontrei. É perfeito para congelar legumes cortados (para quem gosta de cortar logo os legumes e congelar, de modo a ter pronto para cozinhar quando for necessário), óptimo para levar snacks na mala (muito levezinho e muito fácil de lavar) e excelente para cozinhar em banho Maria (experimentei com bróculos, que estavam congelados e funcionou lindamente!) e dá para lavar na máquina. Melhor de tudo: não é de plástico, é 100% silicone. Agora o problema é querer comprar mais! Acho que se tivesse 10, dava uso aos 10!
Sacos de pano
Nunca comprei um saco de pano para ir às compras. Nem sacos pequeninos para levar grão e afins. Há sempre sacos que são oferecidos em corridas, conferências… e uso até os que vêm com os sapatos! Se não tiverem sacos, usem mochilas ou restos de tecidos para fazer os vossos próprios sacos. E para fazer a vez daqueles “saquinhos” pequeninos, sempre levei os frascos para as lojas. A vantagem dos sacos é serem mais leves e fáceis de transportar, mas nunca senti necessidade de comprar sacos pequenos. Levo os frascos lavados, peso, trago para casa e arrumo logo (com os sacos teria de deitar o conteúdo para um frasco e depois lavar o saco).
Não têm sacos, mochilas, trapos velhos ou nada que possam usar para ir às compras? Sem problema, no OLX há imensos em segunda mão. Se nem no OLX encontram, então aí faz sentido comprar novo. Mas, a meu ver, só mesmo depois de esgotar todos os outros recursos anteriores (é que a produção de tecido de algodão consome muita muita água. Vamos tentar evitar?).
Panos (muitos panos)
Não utilizamos guardanapos em casa. Nem papel de cozinha. Nunca senti a necessidade de comprar o “papel de cozinha” de bambu, que se usa umas quantas vezes sequer. Não há nada que um bom pano feito com trapos velhos não limpe. Claro que não ter papel implica ter muito mais panos do que uma cozinha “normal”. Ainda assim, foi a mudança mais fácil de sempre retirar os lenços/guardanapos e rolos de papel na cozinha.
Palhinhas reutilizáveis
Tinham palhinhas de plástico em casa antes desta onda toda do zero waste? Não? Então não precisam de palhinhas de metal para nada. NADA. As palhinhas de metal são uma moda que me incomoda, confesso. Não porque não sejam úteis, mas porque apenas são úteis para quem precisa de palhinhas (e o comum mortal não precisa de palhinhas). Quando são necessárias: pessoas com problemas de deglutição ou mobilidade reduzida, para quem não seja possível (ou seja difícil) beber de um copo, crianças pequenas, pessoas que bebem água com limão (o limão tira o esmalte, bebam de palhinha) ou que bebem chá e não querem tingir os dentes (se bem que esta também me faz confusão porque, enquanto viciada em chá, não consigo conceber que se beba chá de palhinha haha). Outro (raríssimo) caso em que fazem sentido as palhinhas de metal: se for para levarem sempre convosco para beberem de latas de restaurantes. Se não se enquadrarem em nenhum destes casos, arrisco-me a dizer que não precisam de uma palhinha de metal para nada. Nadinha. Só vai ocupar espaço e libertar carteira. Poupem esses euros 😉
Bimby
Não sou patrocinada pela Bimby e era uma cética em relação a este gadget, mas a verdade é que, tendo a Bimby, evito ter uma data de outros eletrodomésticos. Por exemplo, não tenho balança de cozinha, 1-2-3, varinha mágica, liquidificadora nem batedeira. Há muitas bimbys à venda em segunda mão e existem agora novas marcas para estes robots de cozinha. A Bimby é a que usamos cá em casa, mas em casa dos meus pais já houve um robot de cozinha Kenwood e há neste momento uma Yammi. A nossa foi herdada do meu irmão e da minha cunhada, enquanto têm a casa em obras, mas já está mais que decidido que, quando a tivermos de devolver, arranjamos imediatamente outra para a substituir!
Frascos de vidro
Tenho imensos e comprei muito poucos. Todos os que comprei foi até antes de casar e de pensar em todas estas questões da sustentabilidade. A verdade é que não é preciso comprar. Há sempre frascos de mel, grão, feijão, maionese, pesto, molho de tomate… que podem ser lavados e utilizados. A nossa despensa é composta quase exclusivamente por estes frascos reutilizados. E sim, é verdade que é preciso ter alguns: enquanto uns lavam, os outros estão no cesto para ir às compras e outros estão com alimentos na despensa. Dito isto: não é mesmo necessário comprar novos. Ainda que o vidro seja infinitamente reciclável, reciclar vidro sai mais caro do que produzir novo e a produção de vidro consome muitos recursos. Para além disto, em Portugal temos taxas de reciclagem de vidro relativamente baixas, pelo que é sempre melhor reutilizar e comprar frascos de vidro que já tenham tido outra vida – procurem no OLX, há muita gente a vender frascos de vidro reutilizados.
“Tupperwares” de vidro
Vamos começar já com um disclaimer importante: se tiverem tupperwares de plástico, usem-nos! Usem até à exaustão, até se desfazerem. O gesto zero waste mais importante é utilizar todos os recursos que temos da forma mais sensata que conseguirmos. Não tenho tupperwares de plástico porque, quando casámos, decidimos logo comprar de vidro. Mas, em casa dos meus pais, são de plástico e alguns têm mais de 20 anos e continuam ótimos. Portanto, usem o que têm 🙂 Se tiverem de metal, madeira, plástico… é só usar. Se vão comprar de raiz, vidro é super lavável e, se for pirex, até vai ao forno, mas o metal tem a vantagem de não se partir e de ser mais leve (e mais fácil de levar numa “marmita” para o escritório).
Infusor de chá / Filtro reutilizável para café
Acho que toda a gente tem um em casa, independentemente dos hábitos de sustentabilidade. Quem gosta verdadeiramente de chá, não o bebe em saquetas. O infusor funciona lindamente, bem como os bules que têm rede para se colocar as folhas de chá. Se beberem café de balão, convêm terem também um filtro de pano, reutilizável. Cá por casa eu bebo chá, portanto temos um (dois, na realidade) infusor e o João bebe café, mas através de uma máquina automática, portanto não precisamos dos filtros de café. Tudo aquilo de que não precisarem, não comprem. Simples!
Funil
Ainda não temos (e, como tal, provavelmente não vamos ter), mas é um instrumento que dá muito jeito, especialmente para quem faz detergentes em casa ou compra a granel. Como sempre nos conseguimos safar sem funil, diria que não vamos precisar de o comprar, mas dado o cenário de guerra que temos em casa sempre que queremos passar o azeite (vem dos meus avós num daqueles bidons de 5 litros) para os frascos do azeite, talvez fizesse sentido ter um. Vou ver se os meus pais ou avós têm algum a mais ou se alguém está a vender no OLX. Se só houver novo, vou evitar a compra. Comprar um funil novo única e exclusivamente por causa do azeite não me parece muito sensato…
Couvetes de gelo
Parece parvoíce dar destaque às couvetes de gelo, mas na realidade servem para mais do que um propósito cá em casa: servem para fazer os cubos desinfetantes para a sanita, para levarem o caldo que fazemos com restos de legumes e que adicionamos aos refogados, para fazer cubos de água normalíssimos e para fazer cubos de água com menta, morangos ou o que quer que se esteja a estragar e que possa aromatizar água.
Claro que temos panelas, colheres de pau, louça, talheres e afins. Tal como todas as casas. Adorava dizer que temos o exclusivamente necessário, mas decidimos fazer um serviço para 12 pessoas. Em parte porque queremos ser uma família grande e em parte porque queremos que caiba sempre “mais um” à nossa mesa. Não somos minimalistas, nem pretendemos ser (gosto demasiado ser serviços de louça e de mariquices como chávenas a condizer com pratos para poder algum dia ser minimalista), mas reduzimos ao máximo o desperdício. Sem culpas quando não o conseguimos, mas sem desculpas para quando estamos só preguiçosos.
E por aí, o que não existe na vossa cozinha ou que é essencial existir?