Quem Vê Marcas, Vê Corações é a nova rúbrica do blog Do Zero que surge da vontade de dar a conhecer não só a pessoa como também a história que está por detrás das marcas que chegam às casas de toda a nossa comunidade.
A primeira pessoa que escolhemos é a Ana, que faz parte da família de marcas da Do Zero praticamente desde o início.
1.Como te chamas?
O meu nome é Ana Cristina e sou a fundadora da Puranna.
2. Conta-nos um pouco da tua história e de como chegaste a sócia da Puranna.
Nasci em Guimarães, numa família com uma longa história relacionada à indústria têxtil. Aos 19 anos mudei-me para o Brasil, onde vivi durante 5 anos. Foi durante esse período que adquiri alguma consciência ambiental. Seguiram-se algumas imersões em projetos de regeneração e sustentabilidade ambiental, mas a grande inspiração para a mudança veio depois da apresentação da agenda 2030 com os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, em 2015.
Daí veio a enorme vontade de demonstrar que é possível criar um projeto com o mínimo de impacto ao meio ambiente.
A esse desejo juntei o interesse pelos tecidos e decidi voltar para Portugal em 2017, diretamente para a escola de costura Maria Modista, que foi a minha casa de formação durante bastante tempo.
Foi lá que descobri que, um dia, teria a minha própria marca. Curiosamente o têxtil-lar nunca esteve em cima da mesa até 2019.
3. Como surgiu a ideia da marca? E que necessidade veio suprir?
Assim que comecei a estudar e a entrar no mundo dos tecidos, comecei a questionar sobre a origem, os materiais, quem produzia, qual era o seu impacto. Infelizmente, nunca obtinha respostas.
Achei que o 1º passo seria conseguir produzir de forma ética, acompanhar todos os processos, procurar certificações e tentar conhecer e valorizar cada pessoa neste longo processo… Até que tive o 1º contacto com o “deadstock” ou excedentes de produção que existem no nosso país.
São tecidos de uma qualidade absolutamente extraordinária que, por erro de desenho ou cor, cancelamento de encomendas, ou sobre-produção, provavelmente iriam acabar como enchimento de algum sofá.
Estes tecidos mereciam um destino melhor.
No entanto, era uma altura em que quase não se falava sobre esta realidade e, quando se falava, era tratado como lixo. Claro que só podíamos desafiar uma pessoa a fazer uma coleção com “deadstock”, a Catarina Barreiros (!) que ficou tão ou mais entusiasmada que nós – textêis-lar a partir de excedentes de tecidos, e nós adorámos.
4. E como surgiu o nome Puranna?
No meio de toda a necessidade de mudança entre 2015 e 2017, visitei os himalaias e hospedei-me na cidade de Rishikesh. Depois de visitar alguns templos houve uma palavra em sânscrito que me marcou – Purana – que remete a histórias ancestrais sobre a consciência humana e o propósito maior da vida no planeta terra.
5. Quantos trabalhadores tem a empresa?
Depois de 10 meses de criação da marca, entraram 2 sócios para a Puranna, o Emanuel e o Rui.
Eles são aquelas pessoas que só precisam de tocar no tecido para saber tudo sobre ele (sim, às vezes é assustador).
Com todos os seus anos de experiência na área, sempre tiveram vontade de fazer as coisas de forma diferente no mundo têxtil e viram na Puranna essa oportunidade.
E assim fica completa a equipa da Puranna: Ana, Emanuel e Rui… por enquanto.
6. Onde encontram os tecidos com que trabalham?
Temos uma pequena lista de fornecedores que confiamos totalmente e nos contactam quando têm tecidos que sabem que fazem sentido para nós, tecidos com fios longos de 1ª qualidade. São estes poucos fornecedores que sabem a nossa principal exigência: tecidos com suavidade, qualidade, durabilidade e prontos para uma 2ª vida.
Quando somos desafiados por outras empresas ou marcas para produzirmos algum produto, fazemos uma longa pesquisa para encontrarmos os tecidos de “deadstock” ideais.
Para encontrarmos os tecidos que trabalhamos não temos uma fórmula mágica, apenas muita persistência e resistência à palavra “não”.
7. E onde são produzidas as vossas peças?
As nossas peças são todas produzidas no norte de Portugal, em confecções familiares, permitindo-nos apoiar pequenos negócios. Isso também nos permite acompanhar diariamente tanto as produções como as pessoas que colaboram connosco.
8. Num mundo onde é cada vez mais emergente defender os direitos dos trabalhadores, e principalmente na indústria têxtil, que visão tem a Puranna enquanto empresa sobre este assunto e de que forma coloca isso em prática?
Em primeiro lugar apenas trabalhamos com empresas ou confecções onde conhecemos por completo as condições e horários de trabalho de cada trabalhador.
Por outro lado, o nosso processo de negociação é invertido e são as próprias trabalhadoras ou confecções que nos apresentam os valores consoante o seu tempo e disponibilidade.
A valorização do tempo de cada pessoa é extremamente importante para nós.
9. Qual o impacto da vossa marca?
Não faria sentido para nós, enquanto empresa, não apoiar a comunidade onde estamos inseridos. Conseguimos suprir – todas – as necessidades da empresa num raio de 30km da nossa sede.
Os projetos sociais e ambientais são muito importantes para nós e aproveitamos as alturas do ano com maior volume de vendas, como o Natal ou outras alturas de promoções, para apoiar algum projeto. Até ao dia de hoje já conseguimos doar mais de 3000€.
10. O que vos motiva a continuar?
A paixão pelo têxtil e a esperança por uma mudança, por um mundo mais justo, mais saudável e mais verde.
11. Que aspirações futuras têm para a marca?
Queremos sempre fazer mais, procurar mais e criar mais. Demonstrar que é possível reutilizar e fazer coleções bonitas e com uma qualidade incontestável.
O nosso foco tem sido o nosso país, tanto em procura como em expansão da marca.
No entanto, queremos ver a Puranna e os seus produtos noutros países. Esse será um próximo passo, depois de bem estudado todos os impactos que isso trará e como os poderemos compensar.