Afinal, o que é um óleo alimentar usado?
Os óleos alimentares poderão ter diferentes proveniências e, por isso, apresentam uma grande diversidade nas suas origens, como por exemplo: o azeite, o óleo de girassol, o óleo de palma, o óleo de soja, o óleo de colza, etc. Estes óleos tornam-se usados depois de os utilizarmos para fins de fritura doméstica ou industrial.
Os OAU (Óleos Alimentares Usados) apresentam propriedades que oferecem uma elevada resistência a altas temperaturas, e fazem parte constituinte de produtos como as tintas, os lubrificantes, os cosméticos, a iluminação e o biodiesel, apresentando assim uma elevada capacidade de reutilização para outros fins (a produção de biodiesel é exemplo disso mesmo).
Estima-se que, por cada 1000 litros de óleos alimentares usados, se consiga produzir entre 920 e 980 litros de biodiesel, por exemplo, tornando-o um combustível não fóssil, renovável e biodegradável que resulta da reciclagem dos OAU, cujos índices de emissão de dióxido de carbono poderão alcançar menos 80% que o gasóleo.
Porque são os OAU importantes de encaminhar para fora de aterros ou esgotos?
Para além de serem um resíduo com uma elevada capacidade de contaminação de recursos hídricos, provocam também o aumento do risco de entupir a canalização e propiciam o aparecimento de pragas.
Também os esgotos e as ETAR’s (Estação de Tratamento de Águas Residuais) não se encontram preparadas para gerir esta matéria-prima de forma a separá-la devidamente, danificando as infraestruturas e dificultando bastante o tratamento e a condução devida das águas. Isto resulta em problemas que custam dinheiro e manutenção para serem resolvidos e, por isso, apresenta também um impacto público negativo.
Impactos dos OAU
Um litro de OAU poderá contaminar até um milhão de litros de água. Leram bem, um milhão.
1 litro de óleo = 1 000 000 litros de água contaminada. Estima-se que esta quantidade seria o suficiente para uma pessoa pudesse sobreviver durante 40 anos.
Quando OAU entram em contacto com massas hídricas, criam impactos nocivos ao meio aquático, aos solos e aos respetivos organismos que dependem deste meio, e no fundo, a nós que dependemos de ambos.
Os óleos, como podemos ver numa simples experiência caseira de misturar água com azeite, quando em contacto com a água mantém-se à superfície, o que dificulta a transação de processos naturais que ocorrem entre a atmosfera e o meio aquático. Na prática, a luz tem mais dificuldade em chegar a organismos que precisam de realizar a fotossíntese, e que normalmente são a base da cadeia alimentar. Assim, o oxigénio não é libertado devidamente para a atmosfera. Também no processo inverso, o oxigénio é impedido de passar do ar para a água, um processo essencial à sobrevivência de muitas espécies. Para além disto, ainda intoxica as aves aquáticas na procura de água e alimento e asfixia os peixes, bloqueando as suas brânquias.
Também os OAU assim que penetram os solos, poderão entrar nos lençóis freáticos, contaminando-o, ou até, sendo absorvidos por parte das plantas, impedido-as de crescer e proliferar. A par disto, pode ainda criar uma barreira no solo que impede a infiltração da água da chuva, o que aumenta bastante o risco de enchentes.
Como tratar os OAU
Se não for possível reutilizar ou reciclar este óleo, colocar no lixo indiferenciado será o melhor dos piores cenários. No entanto, existem outras opções mais sustentáveis e cada vez mais acessíveis e interessantes do ponto vista da sustentabilidade e da economia circular, até porque, por cada tonelada de óleo deixado em aterro sanitário, poderá libertar-se até cerca de 14 toneladas de gases com efeito de estufa (GEE), pois como sabemos nos aterros não existe o oxigénio necessário para proceder a uma biodegradação natural.
Antes de reciclar ou deitar este óleo «fora», existem também várias maneiras de reutilizar este óleo em casa. Como por exemplo, através dos kits de velas da The Greastest Candle ou do sabonete líquido do kit SOAPY, da marca Ecox, que permitem reciclar OAU, transformando-o em velas ou sabonetes líquidos ecológicos, respetivamente.
E se quisermos reciclar, sem reutilizar em casa, como o podemos idealmente fazer?
Acondicionar bem esta matéria-prima é crucial para que possa ser devidamente reaproveitada e não desperdiçada no caminho, ou no próprio despejo. Por isso, colocar o OAU numa garrafa de plástico, bem fechada, será o cenário ideal. Existem cada vez mais pontos de recolha (ou óleões), seja através da própria Câmara Municipal, de uma entidade responsável de gestão de resíduos ou até de uma superfície comercial. Fazendo uma pesquisa rápida na aplicação WasteApp, encontra o que for mais perto e adequado à sua zona de residência.
Nota importante: No óleo só deve ser colocado óleo alimentar – óleo de fritura, azeites e óleos de conservas.
O que podemos fazer mais?
Outra maneira de podermos contribuir para uma reutilização dos OAU é através do apoio a marcas que têm como a sua fundação, a reutilização deste produto, como a Ecox, que reutiliza os OAU para produzir os seus detergentes domésticos, ou a The Greateste Candle, que faz velas ecológicas com OAU (e que tem uma enorme variedade de cores e essências), e em embalagens recicladas.
É também por isso, que a Loja do Zero se tornou num ponto de recolha de OAU para que, assim, possamos fazer chegar a estas marcas esta matéria-prima. O que é considerado «lixo» por alguns, pode tornar-se em produtos ecológicos muito responsáveis.
Uma mudança de impacto
A reciclagem do óleo alimentar promove uma questão fundamental, que é a da consciência ambiental e das consequências que as nossas escolhas ao nível individual e coletivo poderão ter no planeta, que é a nossa casa. Ao reutilizarmos este óleo para outros fins, estamos a contribuir para uma diminuição da extração de matérias-primas, promoção de uma economia mais circular, e uma valorização do que outrora seria considerado «desperdício».
Óleos, para que vos queremos?
Apesar das alternativas e após conhecermos os impactos negativos dos OAU no planeta, ao nível público, aquático, dos solos e do clima, podemos fazer uma última reflexão: haverá alternativas a este componente que nos faz correr tantos riscos e que cria um impacto tão negativo ao nível dos ecossistemas e da sobrevivência das espécies (incluindo a nossa)?
Fica lançada a questão, para uma próxima discussão.