Há duas semanas, no Instagram, falámos de escolhas “sustentáveis”. Quem já me segue há algum tempo sabe que não gosto muito de dizer que um produto ou marca é sustentável. Acho impossível alguém poder dizer que x ou y é “sustentável”, uma vez que a sustentabilidade inclui inúmeros factores e que dizer que um produto é “sustentável” faz mais ao ego de quem o compra (ou à consciência, vá), do que significa alguma coisa relacionada com o ambiente. Podemos dizer que um produto tem emissões de Carbono mais baixas do que outro, por exemplo. Podemos também dizer que um produto gasta menos água na produção, que é reciclável ou que é de produção local. Mas dizer que é “sustentável” soa, para a maioria dos consumidores, quase a “podem comprar à vontade, este produto tem zero impacto no planeta”. E isso não existe. Tudo o que consumimos tem um impacto. Todas as escolhas que fazemos são uma ponderação entre várias opções (idealmente, se não estivermos num mercado monopolista).
Posto isto, no quizz que fizemos juntos no Instagram, quis fazer-vos várias perguntas e perguntar qual seria a opção mais “sustentável” (ou qual a que deveremos escolher, tendo em conta o impacto ambiental de cada). Chegou a hora de anunciar as respostas da primeira pergunta e explicar os prós e contras de cada uma. Porque nisto da “sustentabilidade” nem sempre temos respostas óbvias e, por muito que vos digam que x ou y é mais sustentável do que w ou z, temos sempre de ser críticos e ter em conta o que temos à nossa disposição, o que podemos ou não adquirir e qual o impacto de cada escolha. Vamos a isso! A primeira pergunta era…
Quais as fraldas mais “eco-friendly”? (reutilizáveis, descartáveis “normais”, biodegradáveis)
Das 4 opções que dei, a grande maioria escolheu as reutilizáveis. Parecia “óbvia” a escolha, para quem anda atento ao tema da sustentabilidade, pelo que pareceu pela sondagem. Como nunca nada é “óbvio” neste mundo da sustentabilidade, decidi investigar! Deixo-vos, em primeiro lugar, a investigação, seguida de uma análise de preço das três opções, para poderem decidir o que será melhor para vocês!
Para começar, um dos artigos que encontrei (1) dizia, claramente, que:
- As fraldas descartáveis são o terceiro item mais encontrado em aterros, representando cerca de 4% dos resíduos sólidos.
- Uma casa com crianças que usem fraldas gera 60 vezes mais lixo e utiliza 20 vezes mais matéria prima, como petróleo e polpa de lã.
- A manufatura e utilização das fraldas descartáveis geram 2.3 vezes mais gasto de água do que as reutilizáveis
- Mais de 135kg de madeira, 20kg de matéria prima derivada de petróleo e 9kg de cloro são utilizados para produzir fraldas descartáveis para um bebé por ano.
- As fraldas descartáveis contêm resíduos de dioxina, um sub-produto tóxico do processo de branqueamento do papel, que tem potencial cancerígeno.
Acontece que esse artigo baseava a parte do desperdício material num site (2), que retirou as suas fontes num artigo científico de 1993 (3) e num estudo publicado pela Agência Ambiental do Reino Unido, de 2005 (4). Ora, a mesma agência publicou, em 2008, um novo relatório sobre o mesmo assunto, com dados atualizados que vieram trazer novos conhecimentos, à luz dos avanços tecnológicos realizados na indústria das fraldas descartáveis.
Este novo estudo (5), veio explicar que:
- Os produtores de fraldas descartáveis conseguiram, através de alterações de design e desenvolvimento, tais como utilização de novos materiais, reduzir o peso das fraldas descartáveis até 13.5% desde 2001/2002 até 2008. De facto, a previsão da indústria em 2008 era de que esta redução fosse incrementada ainda mais no curto prazo. Esta possibilidade (de vir a existir uma redução acrescentada de 10% no futuro – ou seja, uma redução de 23,5% face ao cenário de 2001) foi contemplada numa análise de sensibilidade neste mesmo estudo.
- Os resultados do potencial de aquecimento global (emissões de CO2 em Kg) da utilização de fraldas descartáveis nos primeiros 2 anos e meio de vida de uma criança com fraldas foram considerados serem os seguintes, com base em diferentes cenários (tabela 4.3 do estudo, abaixo):
550Kg no Cenário de base, em que foram analisadas as fraldas descartáveis mais comuns no mercado, que já tinham a tal redução de 13,5% no peso face às de 2001 e, como tal, já seriam mais eficientes, descartadas SEM ter em conta o descarte em conjunto com as fezes e a urina (ou seja, sendo que as fezes seriam descartadas pela sanita) e deitadas no lixo comum para serem tratadas como qualquer outro resíduo orgânico.
509 Kg no Cenário da redução de mais 10% do peso das fraldas, que se encontrava estimado pela indústria
570Kg no Cenário em que está contemplado que as fezes e a urina sejam descartadas juntamente com as fraldas e deitadas no lixo comum para serem tratados em centros de tratamento de resíduos comuns
512Kg no Cenário em que é feita a 100% a digestão anaeróbica das fraldas e seus componentes (este cenário foi acrescentado tendo em conta que existem já em alguns países protocolos de tratamento de resíduos específicos para fraldas, onde estas são tratadas separadamente dos restantes resíduos comuns).
O que estes resultados nos dizem é que, na melhor das hipóteses, caso as fraldas tivessem uma redução de 10% do seu peso desde 2008 (possível, já que passaram mais de 10 anos), o peso das emissões de CO2 causadas pela utilização de fraldas descartáveis numa criança ao longo de dois anos e meio de vida, seria de 509Kg.
E quais os resultados em termos de impacto ambiental das fraldas reutilizáveis, no mesmo estudo?
Os resultados do potencial de aquecimento global (emissões de CO2 em Kg) da utilização de 30 fraldas reutilizáveis ajustadas com capa (12 capas no total) e 20 forros reutilizáveis nos primeiros 2 anos e meio de vida de uma criança com fraldas foram considerados serem os seguintes, com base em diferentes cenários (tabela 4.7 do estudo, abaixo):
568.9Kg no Cenário Base (que assume que as fraldas são lavadas numa máquina a 60ºC– temperatura mínima recomendada pelo departamento de saúde do Reino Unido- a cada 2 dias com a eficiência energética média dos eletrodomésticos em 2006, sendo que ¾ das fraldas seriam secas ao ar livre e as restantes numa máquina de secar (também com eficiência energética média). Assumiu-se ainda que cada capa seria utilizada 2 vezes antes de ser lavada).
519,7Kg no Cenário de alta eficiência energética da máquina (utilização de máquinas de lavar de categoria energética A+)
475.4Kg no Cenário de alta eficiência de carga da máquina (aqui estimou-se que, em vez das 30 fraldas, 20 forros e 12 capas, haveria um aumento de 33% de fraldas, capas e forros e que as fraldas seriam lavadas a cada 3 dias, enchendo mais a máquina de cada vez).
745.7Kg no Cenário de alta temperatura (com as fraldas a serem lavadas a 90ºC em vez dos 60ºC do cenário base).
815.1Kg no cenário de utilização a 100% da Máquina de secar
478.3Kg no Cenário de secagem 100% ao ar livre (estendal)
535.4Kg no Cenário de reutilização das mesmas fraldas numa segunda criança
Estudaram-se ainda Cenários combinados (cenários extremos), uma vez que, no caso das fraldas reutilizáveis, grande parte das emissões de Carbono geradas dependem do modo como os consumidores usam e mantêm as fraldas e, assim, os consumidores poderiam perceber “como as suas escolhas podem afetar o ambiente”. As emissões estimadas nos cenários combinados foram as seguintes:
- 342.3Kg (fraldas reutilizadas numa segunda criança, lavadas com máxima eficiência de carga da máquina e 100% secas ao ar livre)
- 992.8Kg (fraldas lavadas a alta temperatura e 100% secas com recurso a máquina de secar).
O que estes resultados nos dizem é que, na melhor das hipóteses, caso as fraldas sejam usadas numa segunda criança, lavadas com máxima eficiência de carga da máquina e 100% secas ao ar livre, o peso das emissões de CO2 causadas pela utilização de fraldas reutilizáveis numa criança ao longo de dois anos e meio de vida, seria de 342.3KG, um valor bastante inferior aos 509Kg do melhor cenário possível no caso das fraldas descartáveis.
No entanto, estes resultados também nos dizem que, equacionando a “pior” utilização (ambientalmente falando) possível (fraldas lavadas a alta temperatura e 100% secas com recurso a máquina de secar), o peso das emissões de CO2 causadas pela utilização de fraldas reutilizáveis numa criança ao longo de dois anos e meio de vida, seria de 992,8KG, um valor muito superior (quase o dobro!) aos 509Kg do melhor cenário possível no caso das fraldas descartáveis.
Comparando os dois cenários de base, encontramos emissões de 550Kg nas fraldas descartáveis e emissões de 568.9Kg nas fraldas reutilizáveis. Um valor bastante aproximado, apontando mesmo para o benefício ambiental das descartáveis.
Importa ressalvar, no contexto deste estudo, que o cenário de base das fraldas reutilizáveis incluía a contabilização da água utilizada nas descargas de autoclismo, o que não aconteceu no cenário base das descartáveis, em que não se contabilizaram as descargas de autoclismo, nem o tratamento dos resíduos juntamente com as fraldas. De facto, quando o tratamento das excreções foi colocado em cenário (fraldas descartáveis cenário 000), assistimos a um aumento das emissões de carbono para 570Kg).
A conclusão do estudo é que não existe uma opção claramente melhor para o ambiente, se considerarmos os cenários base de ambas as opções, no que diz respeito à utilização de fraldas descartáveis vs. reutilizáveis. O que acontece é que as suas incidências ambientais se concentram em diferentes fases do ciclo de vida das fraldas. A mesma conclusão é obtida um ano depois, em 2009, na Austrália, na sequência de uma conferência da Sociedade de Avaliação do Ciclo de Vida (6)
Um dos estudos mais recentes (7) que temos sobre o tema das fraldas descartáveis é de 2019, volta a pegar no relatório de 2008 da Agência Ambiental do Reino Unido, que considera ser o mais completo e fidedigno até à data e reforça que:
- As fraldas reutilizáveis podem reduzir o consumo de matéria prima e a geração de resíduos, mas que consomem energia, água e detergentes para lavar e secar as fraldas, o que também tem impacto ambiental.
- Este estudo diz ainda que a utilização de fraldas reutilizáveis pode ser feita em conjunto com a utilização de folhas descartáveis (os famosos liners de bambu) que devem ser descartados após cada utilização. Estes liners podem ser descarregados na sanita e poderão biodegradar-se, mas podem não ser compatíveis com todos os sistemas de esgotos, havendo o potencial de causar entupimentos. Da mesma maneira, a utilização e descarte destes liners pode levar a “descargas de autoclismo” mais frequentes.
- É também interessante ler neste estudo que uma análise de eco-eficiência mostrou que as fraldas que não utilizam cola têm um impacto ambiental 1.1%-67% inferior às fraldas descartáveis standard, sendo que podem permitir reduzir as emissões de carbono das fraldas descartáveis até 9.5Kg por cada 1000 fraldas (se estimarmos que um bebé utiliza 3000 fraldas durante a vida, estamos a falar de mais de 28Kg de emissões de CO2 evitadas por bebé). São boas notícias para quem não prescinde das fraldas descartáveis e quer procurar opções menos ambientalmente pesadas.
- Interessa, no entanto, desde já perceber que, de acordo com as instruções das fraldas descartáveis, também os resíduos sólidos destas devem ser descartados pela sanita (para o sistema de esgotos). Se este passo for cumprido por quem utiliza fraldas descartáveis, as “descargas de autoclismo” serão semelhantes, quer utilizemos fraldas descartáveis, quer utilizemos reutilizáveis (com ou sem liners descartáveis).
As minhas conclusões
(baseadas APENAS no bom senso e na minha experiência pessoal).
Acredito que, desde 2008, as máquinas de lavar tenham também ficado mais eficientes e parece-me ligeiramente tendencioso considerar uma redução de 10% do peso das fraldas descartáveis (que foi apenas um dado que a indústria das fraldas descartáveis avançou como sendo possível) e não considerar que poderá existir um aumento da eficiência média energética das máquinas de lavar roupa existentes nos agregados familiares de uma população. É certo que não compramos uma máquina de lavar roupa nova todos os anos. Provavelmente nem de 10 em 10 anos. Ainda assim, as gerações que têm os primeiros filhos estarão também na fase de primeira casa e, como tal, primeira máquina. Digo isto porque foi o nosso caso. Comprámos uma máquina de lavar roupa com uma eficiência energética muito elevada (A+++). De facto, se fizerem uma pesquisa rápida em revendedores de máquinas de lavar roupa, verão que já não existem praticamente máquinas com eficiência abaixo de A+. No estudo, o cenário da máxima eficiência apontava a utilização de uma máquina de lavar A+ como sendo a opção mais eficiente. Sabemos que não é a realidade de 2019, onde o cenário mais eficiente será o de uma máquina A+++.
O contexto português parece-me bastante diferente do contexto do Reino Unido no que diz respeito à secagem da roupa. Certamente, não temos condições para secagem ao ar livre em todo o país durante todo o ano. Mas, atrevo-me a dizer, em grande parte do país, será possível fazer secagem de fraldas sem recurso à máquina de secar. Logo, o nosso “cenário base” para as fraldas reutilizáveis será à partida mais favorável que o do estudo conduzido no Reino Unido.
Gostei muito de perceber, através desta mini investigação, que quem decide utilizar as fraldas reutilizáveis tem nas suas mãos todo um potencial de fazer melhor ou pior ao ambiente. A escolha está inteiramente no consumidor. Dependendo da maneira como quisermos (e pudermos, claro!) utilizar as fraldas reutilizáveis, podemos evitar o consumo de 200Kg de emissões de CO2 ou aumentar o consumo em 500Kg de emissões de CO2 face à utilização das fraldas descartáveis.
Cá em casa, quando decidimos utilizar fraldas reutilizáveis, decidimos logo comprar em segunda mão. Porque tínhamos alguma noção do impacto da manufatura das fraldas novas (embora não soubesse precisar quanto seria, como o fiz hoje) e porque comprar novas implicaria gastar, de uma vez, perto de 500-600€. Em vez disso, gastámos cerca de 200€ (embora tenhamos muita sorte, porque as mousselinas que vamos utilizar numa fase inicial eram já dos meus irmãos e não tivemos de comprar nenhuma – temos perto de 30!). Como vivemos em Lisboa, numa zona onde numa foi necessário recorrer a máquina de secar, vamos conseguir secar todas as fraldas ao ar livre (ou dentro de casa, caso esteja a chover). Depois de perceber o impacto que as descargas de autoclismo têm para quem usa fraldas reutilizáveis – cerca de 12 853 litros de água em dois anos e meio, como se pode ver na imagem abaixo (5) – decidi levar mais a sério a utilização de um balde para aproveitar a água de aquecimento do duche. Geralmente é água que é desperdiçada e que posso perfeitamente utilizar para descargas de autoclismo. Vou tentar também implementar em casa um coletor de água da chuva (foi-me sugerido por uma amiga e, depois de ler sobre o assunto, achei mesmo muito fácil de fazer).
A melhor opção é aquela que fizer mais sentido para cada família. Se parece “impossível” lavar fraldas reutilizáveis, então o melhor será não as comprar.
Aquilo que vos sugiro fazerem é pensar no vosso caso: o que estão dispostos a fazer? Estão dispostos a comprar em segunda mão? Então diria que é meio caminho andado para as emissões de carbono compensarem relativamente às descartáveis. Conseguem fazer lavagens a 60ºC (a maioria das pessoas que utiliza fraldas reutilizáveis até as lava muitas vezes a temperaturas inferiores)? Conseguem não recorrer à máquina de secar? Vejam em que situação se encontram, o que conseguem ou não fazer. Façam as contas e… decidam! Sem dramas, que já deve ser difícil o suficiente lidar com bebés a chorar, quanto mais levar com eco-culpa por cima! Não há culpas de nada, vale malta?
Então, Catarina, mas vais já acabar o post e nem falaste das fraldas biodegradáveis e “eco-cenas”??
Não, vou agora falar disso mesmo. Mas fica para o fim e já vão perceber porquê. Em primeiro lugar, vamos responder a 2 perguntas:
Para onde vão as fraldas, em Portugal?
No site da Agência Portuguesa do Ambiente, pode ler-se:
Long story short: as fraldas vão para aterro, onde são prensadas para se extrair biogás.
Em que condições é que um material biodegradável se degrada?
Segundo um relatório das Nações Unidas (9), a biodegradação é a degradação parcial ou completa de um material como resultado de atividade microbiana, em carbono, hidrogénio e oxigéno, como resultado de processos de hidrólise, fotodegradação e ação microbiana.
Para medir esta biodegradação, foram criados standards (como o ISSO, European Norm – EN, etc), que especificam as condições apropriadas que ocorrem num compostor industrial, no qual a temperatura deve atingir os 70ºC. Estes standards estipulam, com base em sistemas de compostagem industriais, o que pode ser “anunciado” como biodegradável. Segundo um determinado standard, um material é considerado biodegradável se se decompuser em determinadas condições (garantidas pela compostagem industrial) em x dias.
Para perceberem o que acontece na realidade a um produto biodegradável, convido-vos a ler este artigo do Público, com uma experiência levada a cabo pela Ana Pêgo, do projeto Plasticus Maritimus.
Ora, à partida, a ideia de utilizarmos materiais biodegradáveis, é muito interessante. Na prática, como percebemos, a escolha de um produto biodegradável não é assim tão óbvia, na medida em que terá de ir para um compostor industrial para se decompor. O relatório (9) das Nações Unidas sobre os plásticos biodegradáveis, explicou que, segundo a evidência disponível à data (2015), os plásticos biodegradáveis não têm um papel significante na redução do lixo encontrado nos oceanos e, mais grave que isso, anunciar um produto como “biodegradável” pode levar a confusão e mal entendidos por parte da população sobre o que significa ser biodegradável. Este tipo de confusão pode conduzir a comportamentos que resultam num aumento do descarte inapropriado de lixo.
Somando o que aprendemos com as duas perguntas acima, é fácil perceber porque deixei este assunto das fraldas biodegradáveis para o final, certo?
Ora, se os materiais biodegradáveis (como alguns dos que compõem as fraldas biodegradáveis) só se degradam em compostores industriais e, em Portugal, as fraldas são reencaminhadas para aterro… então as fraldas biodegradáveis não se vão degradar, porque não têm condições para tal!
Claro que a biodegradabilidade das fraldas não é o único ponto que importa avaliar, mas fico logo “de pé atrás” quando tentam fazer dos consumidores parvos, dizendo que as fraldas são biodegradáveis (e são, em condições especiais), mas omitindo o facto de apenas serem biodegradáveis CASO vão para um local com as condições para se degradarem, como compostores industriais. Em qualquer local do mundo onde não exista ainda recolha de resíduos orgânicos/compostáveis (como acontece, para já, em Portugal – em que apenas os restaurantes e algumas entidades têm caixotes de recolhas de resíduos orgânicos), a utilização de fraldas biodegradáveis não vai alterar a quantidade de lixo que vai para os aterros.
É verdade que os motivos da escolha destas fraldas não se prendem apenas com o seu descarte (embora ache que muitas pessoas tenham feito esta escolha precisamente com base neste ponto). Algumas fraldas “eco-friendly” (como as marcas gostam de se chamar a si próprias), contêm menos químicos (queira isto dizer o que quiser, dado que existe regulamento muito apertado em tudo o que são produtos de puericultura e que, ter “produtos naturais” não é necessariamente sinónimo de serem inócuos para a pele do bebé) ou utilizam materiais que provêm de florestas sustentáveis (na teoria – e na prática, porque existem certificações para o comprovar, são florestas em que são plantas mais árvores do que as que são abatidas). E isto para vocês podem ser critérios de escolha tão bons como outros quaisquer. Só quero que tenham toda a informação e que saibam que, no descarte, esta alternativa não é melhor do que as fraldas descartáveis tradicionais.
Se é possível que as fraldas biodegradáveis consumam menos recursos na produção do que as descartáveis tradicionais? Perfeitamente possível, mas como não encontrei um único estudo científico sobre o assunto, prefiro não me pronunciar. Se no descarte são melhores do que as tradicionais? A menos que sejam compostadas industrialmente, absolutamente não.
Referências
- Ajmeri, J. and Ajmeri, C. (2016). Developments in the use of nonwovens for disposable hygiene products. Advances in Technical Nonwovens, pp.473-496.
- Real Diaper Association. (2019). The only way to change diapers is one baby at a time. Real Diaper Association. [online] Available at: http://www.realdiapers.org/diaper-facts [Accessed 22 Jul. 2019].
- Armstrong, Liz and Adrienne Scott Whitewash: Exposing the Health and Environmental Dangers of Women’s Sanitary Products and Disposable Diapers, What You Can Do About It. 1993. HarperCollins.
- Link, Ann. Disposable nappies: a case study in waste prevention. April 2003. Women’s Environmental Network.
- Aumônier, S., Collins, M. and Garrett, P. (2008). An updated lifecycle assessment study for disposable and reusable nappies. Bristol: Environment Agency.
- O’Brien,K.R., Olive, R., Hus, Y.C., Bell,R., Morris, L., Kendall, N., 2009. Life cycle assessment: reusable and disposable nappies in Australia. In: Australian Life Cycle Assessment Society Conference – 6th Australian Conference on Life Cycle Assessment. Melbourne, Australia.
- Mendoza, J., D’Aponte, F., Gualtieri, D. and Azapagic, A. (2019). Disposable baby diapers: Life cycle costs, eco-efficiency and circular economy. Journal of Cleaner Production, 211, pp.455-467.
- Apambiente.pt. (2019). APA – Políticas > Resíduos > Fluxos Específicos de Resíduos > Fraldas descartáveis usadas. [online] [Accessed 19 Jul. 2019].
- UNEP (2015) Biodegradable Plastics and Marine Litter. Misconceptions, concerns and impacts on marine environments. United Nations Environment Programme (UNEP), Nairobi.
E os preços?
Para terminar, vamos só rever sucintamente os preços das fraldas descartáveis vs. reutilizáveis.
Fraldas descartáveis: Cerca de 5€ 25 fraldas (as mais baratas que encontrei, marca branca). Estamos a falar de 0,2€ por fralda. Se um bebé utilizar 3290 fraldas até ao desfralde, estamos a falar de 658€ em 2 anos de fraldas.
Nota: baseei-me na tabela deste site, que estima 220 fraldas por mês nos primeiros 2 meses (7 fraldas por dia), 180 fraldas por mês entre os 3 e os 8 meses (6 fraldas por dia) e 150 fraldas por mês entre os 9 e os 24 meses (5 fraldas por dia). Parecem-me valores “por baixo”, porque no início podem usar até 10 fraldas por dia e há muitos bebés que, depois dos 24 meses, ainda utilizam fraldas. Mas usemos este modelo, para fazer as contas de modo conservador.
Fraldas reutilizáveis: Assumindo que se compram as tudo em 1 (são as mais comuns, mas não as mais baratas), os valores de compra de cada fralda NOVA é entre 15€-25€ (vejam o site EcologicalKids para referências de valores). Estima-se que sejam necessárias cerca de 30 fraldas na vida útil de um bebé, pelo que estamos a falar de 450€-750€ em fraldas para a vida toda do bebé.
Se considerarmos as pré-dobradas e mousselinas, estamos a falar de menos de 5€ por fralda, mas precisam de capas. Acaba por compensar em termos de valor, mas a maioria prefere as tudo em 1, daí utilizarmos como comparação o valor destas, mais caras.
Posso adiantar-vos ainda que, comprando fraldas reutilizáveis em segunda mão e aproveitando os panos de mousselina que a minha mãe utilizou com os meus irmãos, gastei cerca de 200€ em fraldas. Ou seja, o valor que decidem investir, depende do quão dispostos estão a adaptar-se aos modelos que encontram em segunda mão.
Terminado o artigo, contem-me de vossa justiça! O que pensam fazer? que dúvidas ainda têm sobre este assunto?
PS: Gostaram do artigo ou foi-vos útil de alguma maneira? Se quiserem e fizer sentido, deixo AQUI um link onde me podem oferecer um café (ou chá, que eu sou mais de chás quentinhos), para me acompanhar nas próximas horas de investigação a preparar os artigos que encontram aqui no site 🙂