A alguns dias de nascer a Gracinha, gostava de vos falar disto de ter filhos no meio de cartazes a agradecer quem não os tem (em prol do planeta – supostamente), no meio de frases alarmistas como “não quero ter filhos porque temo o futuro deles” e no meio de “mas estamos sobre-populados, que irresponsabilidade ter filhos!”. Malta, lá por o Prince Harry dizer que ter filhos contribui de alguma maneira para a (falta de) sustentabilidade no mundo, isso não significa que ele esteja certo. Vamos buscar dados “a sério” e ver esta questão como deve ser, vale?
O que os dados e a História nos contam
1. Até chegarmos ao primeiro milhar de milhão de habitantes na Terra, demorámos centenas de milhares de anos (estimamos nós, que este número foi atingido em 1800 e, mesmo à data, os censos eram altamente discutíveis – afinal, em tantas partes do mundo, não se contabilizava sequer a população). O segundo milhar de milhão demorou apenas pouco mais de 100 anos a atingir e o seguinte cerca de 40 anos. Em 1975 era estimado que fossemos 4 mil milhões de pessoas na terra. Hoje, somos mais de 7 mil milhões (https://population.un.org/wpp/). E é isto que anda a alarmar meio mundo, porque se desenharem um gráfico num papel e “estenderem a linha”, isto representa um crescimento exponencial (se fizerem o gráfico de 100 em 100 anos, por exemplo). Mas o crescimento populacional pode e deve ser analisado em “zoom”, olhando para 10 anos de cada vez. E aí, o cenário muda.
2. No início do século XIX, em grande parte do mundo dito desenvolvido (Hemisfério Norte), as taxas de nascimento desceram a pique, sobretudo pelo acesso à educação feminina e a métodos contraceptivos. De facto, o que os dados (abaixo, com números da UN) nos mostram é que, nas sociedades mais desenvolvidas, onde as mulheres têm mais oportunidades de trabalho “fora de casa”, o agregado familiar não chega sequer para fazer a renovação da população (cada casal tem menos de dois filhos), o que leva a população a diminuir (e não a aumentar). Assim, à medida que mais países do mundo conseguem acesso à educação feminina e a melhores condições de vida (leiam o Factfulness e divirtam-se nos gráficos do Gapminder para perceber que isto ESTÁ A ACONTECER), os nascimentos vão diminuir drasticamente, como aliás está a acontecer no HN desde 1960. Neste momento, as previsões da UN são de que as geografias que, para já, não acompanharão a tendência do decréscimo populacional se encontram na África Subsariana (o que está relacionado com as fracas condições de vida da população – saneamento, mortalidade infantil, trabalho feminino…).
3. Embora seja muito difícil contar a população (alguns países, por necessitarem de mais ajuda, tendem a sobrevalorizar o número de habitantes e outros, por questões étnicas, por exemplo, tendem a sub-valorizar a população), as Nações Unidas têm conseguido estimar contagens mundiais com bastante rigor. Todos os anos, a UN publica uma estimativa das tendências populacionais em cenários de alta e de baixa fertilidade. Estas estimativas têm vindo a mostrar-se cada vez mais certeiras (as estimativas de 1990, publicadas em 1950, falharam por 12%, mas as publicadas em 1960 já só falharam 2%. Podem ver na imagem do crescimento estimado da população comparando com o crescimento real – vejam no gráfico abaixo, retirado dos relatórios de predição populacional das Nações Unidas).
4. Embora haja quem afirme que, em 2100, seremos mais de 14 milhares de milhões de habitantes, o que as tendências da UN afirmam é que a população irá crescer, sim, até 2100, atingindo 11.2 biliões de pessoas e, de seguida, começará a decrescer. Há cientistas que vão mais longe, enfatizando a quebra na fertilidade e afirmando que “a população não chegará aos 9 biliões. Irá atingir os 8 biliões em 2040 e depois começará a decrescer” (Jorgan Randers, investigador de estratégia climática Norueguês). Os investigadores demográficos do International Institute for Applied Systems Analysis em Viena também concordam, afirmando que a população irá estabilizar a meio do século e começar a decrescer.
5. Existe um fenómeno de transição demográfica muito interessante: quando as populações se tornam mais abastadas, a taxa de mortalidade infantil começa a diminuir, o número de filhos também e a população começa a decrescer. “Então, mas se a taxa de mortalidade infantil diminui, não aumenta o número de pessoas??”. No imediato, sim. Mas à medida que os pais compreendem que há menos probabilidade dos filhos morrerem, decidem ter menos filhos (sim, porque “antigamente”, quando se tinha 5-6 filhos, era sabido que 1 ou 2 iriam morrer antes de se tornarem adultos). Da mesma maneira, populações com mais segurança financeira, dependem menos da ajuda dos filhos para sobreviver (era muito comum ter-se muitos filhos para ajudarem no trabalho ou no campo). Assim, ainda que estejamos, em muitos países, na fase em que a mortalidade infantil está a diminuir e o número de filhos ainda não diminuiu, as tendências populacionais mostram que, quando a população começar a perceber que a melhoria das condições de vida fará com que não morram filhos, o número de filhos começará a diminuir. E é previsto que isto aconteça antes de chegarmos a 2100. Vejam ESTE vídeo para compreenderem bem esta questão da transição demográfica.
6. As taxas de nascimento estão, assim, tendencialmente a diminuir também nos países mais pobres e irão continuar a decrescer à medida que as condições de vida dos seus habitantes melhoram. A tendência de decrescimento populacional que começou na Europa, está a espalhar-se para o resto do mundo e não mostra sinais de abrandamento. Vejam na imagem seguinte as previsões populacionais da UN para 2100.
As consequências de “sermos muitos” e o que podemos fazer
Já percebemos que não estamos a crescer “exponencialmente”. Estamos a crescer mais lentamente, mas a crescer enquanto população. Este cenário terá tendência a terminar por volta de 2100. Ainda assim, até chegar o dia em que a população decresce, teremos de conseguir gerir 11 milhares de milhão de pessoas na Terra. E quem fica alarmado com a “sobre-população”, utiliza muito o argumento de “não temos como alimentar todos, logo, temos de ser menos”. Isto, pura e simplesmente, não é verdade. A verdade é que TEMOS como alimentar todos, mas não com a distribuição de recursos a que assistimos. Em vez de pensar em limitar o número de filhos que cada um quer ter, pensemos em como mudar os comportamentos para que continuemos a poder decidir em liberdade se queremos filhos ou não.
Existe sobre-população a partir do momento em que há habitantes A MAIS. Ou seja, a partir do momento em que os recursos que usamos não chegam para servir toda a população. Vamos analisar os recursos de que necessitamos, para perceber se temos ou não o necessário para suportar o crescimento previsto de população até 2100?
Alimentação
Como expliquei NESTE POST, “de momento, temos capacidade para alimentar toda a gente do globo (não sou eu que o digo, mas sim a FAO, que explica que estamos a deitar comida “fora” a um ritmo alarmante. A UN reporta que um terço da comida global é, neste momento, desperdiçada). De facto, temos capacidade para alimentar 1,5x mais do que a população mundial (Holt-Giménez et al, 2012), mas não se continuarmos a comprar e/ou consumir A MAIS do que aquilo de que necessitamos, que é o que se está a passar. Temos, sim, um enorme problema com a distribuição dos alimentos, com o HN a consumir mais do que necessita e o HS a consumir menos do que necessita (aliás, a recomendação das Nações Unidas, é desde 2010 que exista uma maior parceria entre o HN e o HS, no que toca à agricultura sustentável, para evitar estes desequilíbrios nutricionais e desperdícios alimentares)”.
A EAT é uma plataforma global que investiga de modo científico as transformações no sistema alimentar e a Comissão EAT – Lancet juntou 37 cientistas de destaque mundial para responder à questão “Conseguimos alimentar uma população futura de 10 mil milhões de pessoas, de modo saudável e que respeite os limites ambientais do planeta?”. O resultado desta investigação encontra-se NESTE relatório (versão resumida AQUI), que constitui a primeira revisão científica acerca daquilo que é uma dieta saudável, vinda de um sistema alimentar sustentável, explicando que ações ajudam a acelerar esta transformação (necessária) dos sistemas alimentares.
Segundo a Comissão EAT-Lancet, a “transformação para dietas mais saudáveis vai implicar mudanças significativas na alimentação. O consumo global de frutas, vegetais, oleoginosas e legumes terá de duplicar e o consumo de alimentos como a carne vermelha e o açúcar terão de reduzir para mais de metade. Uma dieta à base de plantas, com menos alimentos de origem animal, garante melhorias na saúde e benefícios ambientais”.
Energia
Segundo a IEA (Internacional Energy Agency), a transição de populações de um cenário de pobreza extrema para subsistência estável custa pouca energia, sendo que a garantia do acesso universal a eletricidade para aquecimento e confecção de alimentos até 2030 iria aumentar as emissões de CO2 por menos de 1%. Passar ao “passo seguinte”, de subsistência estável para uma “existência confortável”, aumentaria a média per capita para 2.5kW. No entanto, deste último passo para os standards de vida dos EUA até 2100 (uma média de 9.5kW por pessoa), implicaria gerar mais 51 TeraWatts de energia do que produzimos hoje. Isto significa que as previsões da IEA, vislumbram um ano de 2100 onde a procura chegará aos 70 TW: colocando por miúdos, é imaginar todos os geradores a carvão, plantas nucleares, turbinas eólicas e quintas solares e multiplicar por quatro.
Percebemos assim que não estamos perante uma crise energética no sentido de garantir necessidades básicas (essas seriam simples de assegurar), mas sim de uma crise caso o consumo do resto do mundo se equiparar ao consumo per capita das populações mais consumistas. No fundo, resume-se tudo ao mesmo: consumo excessivo. Daí que, mais uma vez, me faça alguma confusão pensar nos problemas ambientais como “problemas dos governos ou das empresas”. Temos muita responsabilidade no estado de preservação atual (e futuro!) do planeta. E a grande carga de “culpa” está em nós, que temos acesso a Internet para escrever e ler artigos, que temos eletricidade em casa, vamos de carro sozinhos para o trabalho e nos damos ao luxo de esquecer das luzes acessas, ou de não mudar para LED porque “em vez de 1€ a lâmpada, custa 5€”. Ou de trocar um frigorífico perfeitamente funcional por um mais “moderno” só porque sim, porque fica melhor na decoração.
A migração nos países menos desenvolvidos de zonas rurais para urbanas é inevitável e muito necessária para o saudável desenvolvimento das populações. É através desta migração que muitas pessoas terão acesso a água canalizada, sistemas de esgotos e redes elétricas (que, como já vimos, irá contribuir para que a população se desenvolva e deixe de continuar a ter os mesmos padrões de crescimento populacional). No entanto, embora consigamos algumas eficiências de consumo (garantidas por economias de escala) quando passamos de viver em pequenas residências ruais para agregados urbanos de maior densidade, o facto de também aumentarmos o nosso poder de compra, anula o efeito dessas eficiências de escala e, efetivamente, o consumo energético per capita aumenta. Isto é especialmente relevante se pensarmos que a urbanização também promove a desagregação das famílias: se uma família, no campo, vivia numa casa de 12 ou mais pessoas (com várias gerações na mesma casa), hoje em dia, na cidade, as habitações servem apenas para uma família de dimensões inferiores, sendo que existe tendência para que os filhos, depois da maioridade, passem mesmo a morar sozinhos. Se pensarmos de maneira prática: uma máquina de lavar roupa que poderia servir 12 pessoas, serve agora apenas uma, sendo que cada uma das 12 pessoas passará a ter a sua própria máquina de lavar roupa.
Segundo dados do Report Anual da BP, que inclui todos os combustíveis comerciais e fontes renováveis, em 2016, foram necessários 18 triliões de Watts para manter “o mundo” a funcionar. Em 2018, atingimos recordes históricos em consumos energéticos, com um crescimento na procura de 2.9% face a 2017, sendo que dois terços deste aumento na procura energética veio da China, EUA e India. De facto, o crescimento mais acentuado deu-se nos EUA, onde o consumo energético aumentou 3,5% (o crescimento mais célere dos últimos 30 anos). Spencer Dale, diretor económico do grupo BP, explica que estamos numa época em que existe cada vez mais consciência e demanda de ação no que diz respeito às alterações climáticas, mas que os dados energéticos mostram que continuamos teimosamente a remar na direção contrária.
Podíamos pensar que este aumento energético pode estar também relacionado com o investimento em energias renováveis. Se é verdade, que o gás natural e as energias renováveis foram as principais fontes de aumento de consumo energético (com a utilização de energias renováveis a crescer de 8,4% para 9,3%, sendo o tipo de energia com maior rapidez de crescimento, liderada pela energia do vento e solar), também é relevante mencionar que o carvão continua a ser a forma de energia mais utilizada, sendo responsável por 38% do consumo energético total. Como resultado, temos que as emissões de carbono cresceram ao ritmo mais elevado dos últimos sete anos. Isto significa que nos estamos a afastar da transição pedida (e assinada) nos objetivos do Acordo de Paris.
Bob Dudley, diretor executivo do grupo BP, explicou em Junho de 2019 (no mesmo relatório), que a aceleração das emissões de carbono foram resultado direto do aumento do consumo energético, que esteve relacionado com as alterações climáticas (aumentou a necessidade de aquecimento e arrefecimento das casas). Dudley explica ainda que o uso do carvão como fonte energética correspondeu a um terço do aumento energético total, referindo que o maior desafio dos próximos 20 anos para os sistemas energéticos globais é o de descarbonizar o setor energético, ao mesmo tempo que acompanha a crescente procura por energia, particularmente nos países do Hemisfério Sul (a que se referiu como “mundo em desenvovimento”). Segundo o mesmo, as energias renováveis terão um papel vital neste desafio, mas não o conseguirão superar por si só. Será necessário o desenvolvimento de um diverso número de tecnologias e combustíveis, bem como de um sistema generalizado de captura, utilização e armazenamento de carbono: “Não se trata uma corrida atrás das energias renováveis, mas atrás da redução das emissões de carbono em todas as frentes”.
Consumo doméstico
Li também, recentemente, um estudo muito interessante acerca do Impacto Ambiental do Consumo Doméstico (Ivanova et al, 2015). Este estudo explicava que os consumidores domésticos (ou seja, a família lá em casa, trocando por miúdos) são responsáveis por mais de 60% das emissões dos gases de efeito de estufa do planeta e por 50%-80% do uso global de terra, materiais e água. O estudo refere ainda que as pegadas se encontram distribuídas de modo pouco uniforme pelo globo, com os países mais ricos a gerarem mais impacto por habitação. Isto faz sentido, uma vez que quanto mais elevada a renda disponível por família, maior o poder de compra da mesma e, consequentemente, maior o consumo e os impactos consequentes do mesmo. O mesmo estudo conclui com uma mensagem que me parece importante para todos nós: “Em último caso, uma mudança de comportamento pode ter um potencial significante no equilíbrio do crescimento económico com a performance ambiental”. Sabem quando dizem “as empresas é que têm de mudar, coitadinhos dos consumidores!”? Está aqui a resposta: a verdade é que está nas nossas mãos escolher o que consumimos. E isso vai impactar as emissões de gases de efeito de estufa e a capacidade do planeta renovar ou não os seus recursos, de modo a acomodar as necessidades (atenção à palavra, escolhi necessidades e não “desejos”, “vontades” ou “manias”) de 11 milhares de milhão de pessoas.
Água
Segundo a FAO, a falta de água ou fraca qualidade de água e de condições sanitárias, afetam a segurança alimentar, a nutrição e as oportunidades educacionais e económicas nas famílias mais pobres (o que, como já vimos acima, faz com que a transição demográfica seja mais lenta e que as populações menos desenvolvidas continuem em crescimento populacional). A mesma agência (Food and Agriculture Organization for the United Nations) explica que a agricultura e a criação de animais são responsáveis por 70% do consumo de água global (podendo mesmo chegar a 95% nos países menos desenvolvidos). 20% encontra-se a ser utilizada pela indústria e 10% está relacionado com o consumo doméstico.
Assim como a energia teve o seu próprio destaque, interessa igualmente falar de água. No entanto, a verdade é que o consumo de água já está contemplado nos títulos da alimentação e do consumo doméstico. De facto, a FAO explica que o setor da produção de gado é um dos maiores responsáveis pelo aumento do consumo de água e seu descarte, sendo que a água utilizada neste sector é 8% superior ao consumo de água global para utilização humana! A maior parte desta água que tem como destino a produção de gado é, de facto, utilizada para irrigar as culturas que alimentam o gado.
Percebemos, então, que conseguimos reduzir o consumo de água potável (sobretudo) através da nossa alimentação (mudanças de dieta), consumo de bens e serviços e consumo de água em casa.
Conclusões
Segundo explica Lyman Stone (economista agrícola na USDA), mudanças no “modo como o mundo desenvolvido produz energia impactam mais dramaticamente o planeta do que o crescimento da população”. De facto, “diminuir a intensidade utilização carbónica nos Estados Unidos para um terço, teria um efeito mais positivo do que impedir o nascimento de 100 milhões de Americanos”. Claro que esta diminuição da exploração carbónica teria de ser acompanhado por um aumento na utilização de energias renováveis, o que requer investimento. No entanto, numa economia estável / próspera, é possível.
Necessitamos de, em simultâneo, reduzir o consumo (reduzir a utilização de energia, água e solo) nos países do HN e fazer com que a transição dos países do HS para um estilo de vida mais próspero não seja acompanhada pelos padrões de consumo que ocorreram no HN. Precisa de existir uma mudança societal em grande escala, que promova a procura e a implementação de tecnologias para a produção de energias renováveis que sejam economicamente viáveis; precisamos de mudar a forma como consumimos (em qualidade e quantidade, priveligiando sistemas circulares e de partilha – os negócios C2C poderão ter uma importante expressão na sustentabilidade económica, social e ambiental do planeta).
Então, mas que estratégias podemos adotar para não esgotarmos os recursos do planeta quando formos 11 milhares de milhão? Ficam 6 dicas simples, ao alcance de todos:
- Reduzir o consumo e desperdício Alimentar (consumir aquilo que nos é recomendado, não mais! e não deixar comida estragar)
- Fazer uma alimentação com mais vegetais e menos carne
- Priveligiar energias mais limpas (trocar as lâmpadas de casa por LEDs ou lâmpadas energeticamente mais eficientes, instalar painéis solares e/ou termovoltaicos, subscrever um serviço de rede energética que utilize energias renováveis)
- Reduzir o consumo doméstico de água e re-aproveitar as águas: instalar em casa sistemas de recolha de águas pluviais, recolher a água do aquecimento do banho para utilizar na confeção de alimentos/limpezas/descargas de autoclismo, utilizar as águas cinzentas (que resultam das lavagens das máquinas de lavar) para regar o jardim…
- Reduzir o consumo de bens não essenciais – ao comprarmos uma peça de roupa nova, convém pensarmos nos litros e litros de água que estão implicados na sua produção.
- Promover o consumo de bens e serviços partilhados, como modo de aliviar o impacto do nosso consumo per capita: lavandarias self-service, transportes públicos, plataformas de aluguer de ferramentas/roupa/utensílios, carros partilhados…
Conclusões pessoais
Há ainda algumas questões acerca da família, de ter ou não filhos, que não estão consideradas nos “números” acima. É que a família é a primeira unidade da sociedade. Construir família, acredito, significa construir sociedade. Precisamos de eleitores informados, de pessoas capazes de estimular a economia, para que possamos encontrar tecnologias cada vez melhores que nos permitam combater os problemas com que nos depararmos enquanto cidadãos mundiais.
Se os países do Sul continuam a ter mais filhos do que os do Norte (tendencialmente com mais acesso a educação, alimentação adequada…), então vamos ter uma maioria da população mundial a precisar de apoio que a minoria terá de garantir. Isto não me parece economicamente viável. Para os países do HN conseguirem ajudar os países do HS a evoluirem, precisamos de economias estáveis. E economias estáveis constroem-se com cidadãos educados e informados, trabalhadores empenhados, eleitores interessados e pessoas com vontade de ajudar a mudar o mundo. Acontece que é assim mesmo que pretendo educar os meus filhos: numa família onde o amor será sempre abundante, para os permitir descobrirem-se a si próprios e ao mundo.
E é por isso que me faz sentido ter mais do que os filhos necessários para a renovação populacional: porque acredito que seremos capazes de criar uma família que contribua positivamente para a sustentabilidade e acrescente valor à sociedade. Esta escolha, de uma família mais numerosa, é tão válida como a escolha de uma família menos numerosa. Cabe a cada um decidir o que faz sentido para si. Eu prefiro ter mais filhos e reduzir o meu consumo (e o deles, até terem idade para escolherem o consumo que fazem). Escolho ter a trabalheira de lavar fraldas com cocós, de não usar máquina de secar e de planear refeições vegetarianas nutritivas. Escolho investir em energias limpas na nossa casa. Escolho andar de transportes públicos e viajar menos. E, sobretudo, escolho ter uma família onde vai sempre caber mais um à mesa. E vou dormir descansada à noite, porque tenho plena consciência de que esta minha escolha não vai “matar o planeta”. Muito pelo contrário.